Charles Bezerra Cabral
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Dando sequência a Literatura Cordelista, publicamos mais um exemplar do primo poeta Rena Bezerra.
CASA DE MATUTO TEM...
I
Tem oratório pra reza
E um dono que muito preza
Seu santo de devoção
Tem mesinha de oração
Com flores por cima dela,
Castiçal, incenso e vela
Pra fazer adoração.
II
Tem uma mesa que cheira
Com inhame, macaxeira
Com corredor e pirão
No chiqueiro tem capão
Um porco para a engorda,
No silo feijão de corda
Pra fazer um rubacão.
III
Tem arataca, espingarda
Um cachorro bom de guarda
e outro de caçar peba
Tarrafa pra pirambeba
Um pau de pindurar osso,
e já ‘pertim’ do almoço
Um trago de jurubeba.
IV
Tem menino com fartura
Carne seca, rapadura
Tem sortimento e amor
Tem uma cabocla na flor
Que toda hora se atiça,
Pega fogo e se enfeitiça
Debaixo do cobertor.
V
Tem janela no oitão
Café quente no fogão
‘dispensa’ pra mantimento
Um menino bem atento
E máquina de moer milho,
Pra tapioca polvilho
Pra botar lenha um jumento.
VI
Tem cabide e atajé
Bule, caritó, tripé
Silo, cabaça e enxada
Pote, pilão, tem latada
Candeeiro, aparador,
Fogão quente abrasador
Farofa com carne assada.
VII
Um velho rádio ABC
Tem petisqueira, bufê
Bacia pra lavatório
No terreiro um criatório
De galinha e de guiné,
Tem esperança e tem fé
No São João tem foguetório.
VIII
Tem gaiola na parede
No velho alpendre uma rede
Um banco pra se sentar
Calçada pra namorar
Um contador de vantagens
De anedotas, visagens
De botija pra arrancar.
IX
À noite tem uma roda
De cordel, de prosa e moda
No terreiro se cultua
No iluminado da lua
bolo de caco e Café
Cachaça com arrasta pé
E donzela de costa nua.
X
Tem aconchego sobrando
Gente confraternizando
Os anjos dizendo amém
Pode não ter um vintém
Mas por aqui tem calor
Paz, humildade e amor
Casa de matuto tem.
Poeta cordelista
Rena Bezerra
22/01/2013
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