terça-feira, 8 de agosto de 2023

 Charles Bezerra Cabral

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    Dando sequência a Literatura Cordelista, publicamos  mais um exemplar do primo poeta Rena Bezerra.


CASA DE MATUTO TEM...

 

I

Tem oratório pra reza

E um dono que muito preza

Seu santo de devoção

Tem mesinha de oração

Com flores por cima dela,

Castiçal, incenso e vela

Pra fazer adoração.

 

II

Tem uma mesa que cheira

Com inhame, macaxeira

Com corredor e pirão

No chiqueiro tem capão

Um porco para a engorda,
No silo feijão de corda
Pra fazer um rubacão.

 

III

Tem arataca, espingarda
Um cachorro bom de guarda
e outro de caçar peba

Tarrafa pra pirambeba

Um pau de pindurar osso,
e já ‘pertim’ do almoço

Um trago de jurubeba.

IV
Tem menino com fartura
Carne seca, rapadura
Tem sortimento e amor
Tem uma cabocla na flor
Que toda hora se atiça,
Pega fogo e se enfeitiça
Debaixo do cobertor.

 

V

Tem janela no oitão
Café quente no fogão
‘dispensa’ pra mantimento
Um menino bem atento

E máquina de moer milho,

Pra tapioca polvilho

Pra botar lenha um jumento.

VI

Tem cabide e atajé
Bule, caritó, tripé
Silo, cabaça e enxada

Pote, pilão, tem latada

Candeeiro, aparador,

Fogão quente abrasador

Farofa com carne assada.

 

VII

Um velho rádio ABC

Tem petisqueira, bufê

Bacia pra lavatório

No terreiro um criatório

De galinha e de guiné,

Tem esperança e tem fé

No São João tem foguetório.

VIII

Tem gaiola na parede

No velho alpendre uma rede

Um banco pra se sentar

Calçada pra namorar

Um contador de vantagens

De anedotas, visagens

De botija pra arrancar.

IX
À noite tem uma roda
De cordel, de prosa e moda
No terreiro se cultua
No iluminado da lua
bolo de caco e Café
Cachaça com arrasta pé
E donzela de costa nua.

 

X

Tem aconchego sobrando

Gente confraternizando

Os anjos dizendo amém

Pode não ter um vintém

Mas por aqui tem calor

Paz, humildade e amor

Casa de matuto tem.

 

Poeta cordelista

Rena Bezerra

22/01/2013

 

 


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