segunda-feira, 7 de agosto de 2023

 Charles Bezerra Cabral

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    Hoje vamos iniciar a publicação de (12) doze exemplares de literatura de cordel escritas pelo meu querido primo Rena Bezerra, poeta da cidade de São José de Princesa. O Rena reside nessa histórica cidade mais precisamente no Alto dos Bezerra, no Chalé/Casarão de propriedade da família e que foi construida entre os anos de 1917/1918 pelo meu saudoso bisavô, LUIZ BEZERRA LEITE (santo bezerra), falecido em 1954.

    Rena Bezerra nasceu em 02/11/1969, é filho do meu saudoso primo EDILSON BEZERRA LEITE e da minha prima RITA HENRIQUE BEZERRA. É licenciado em Biologia pela Faculdade de Formação de Professores de Arcoverde na turma de 1993. Dotado de grande cultura e sabedoria, Rena Bezerra além de poeta, é Professor e pecuarista, e vive da criação de gado de leite nas propriedades herdadas do pai e que estão na família a cerca de dois séculos, desde a chegada dos Bezerras em São José de Princesa lá pelos idos de 1801. (vê matéria sobre a chegada dos Bezerra em São José de Princesa: http://charlescabral-ipa.blogspot.com/2016/03/origem-da-familia-cabral-em-sao-jose-de.html).

                                                          Poeta Rena Bezerra declamando


Casarão/Chalé do Alto dos Bezerras em São José de Princesa PB construído entre 1917/18


CONTENDA ENTRE OS BEZERRAS de São José de Princesa E OS FERREIRAS de Vila Bela.

(Autor: Rena Bezerra)

-Poeta e Professor-

 

Se passou no século XX

Isso que eu vou contar,

Os Bezerras e os Ferreiras

Sempre junto a viajar,

Tangendo seus animais

Pra transportar cereais

Cada qual pra seu lugar.

 

Eles eram almocreves

Cortando todo o sertão,

Seus burros de grande porte

Pra suportar o rojão,

Viajavam por Campina

Juazeiro, Araripina

Por toda essa região.

 

Também estava na rota

Arcoverde e Mossoró,

Da serra do Araripe

Ao vale do Piancó,

Os almocreves passavam

Na rota também cruzavam

Cariri e Moxotó.

 

De Araripina traziam

Óleo, sabão e farinha,

De Juazeiro tecidos

Produtos de toda linha,

Arroz lá do Piancó

E o sal de Mossoró

Pra não faltar na cozinha.

 

De Campina Grande vinha

Café e cachaça boa,

Os móveis pra toda a casa

Para agradar a patroa,

E também outros produtos

Que vinha La dos redutos

Da capital João Pessoa.

 

Das bandas de Arcoverde

Traziam roupas, calçados,

Equipamentos agrícolas

Para tocar os roçados,

Traziam medicamentos

Munição e armamentos

Pra suprir “os mais chegados’.

 

E na rota dos tangentes

Tinha os pontos de apoio,

Onde iam descansar

Fazer toada e aboio,

Depois iam almoçar

Bater papo, se esticar

E abastecer o comboio.

 

Mas numa viagem dessas

Entre o ano 15 e 17,

Um irmão de Virgulino

Querendo fazer manchete,

Numa discussão banal

Pensou ele que era o tal

E a morte o outro promete.

 

Começou uma questão

Iniciou-se uma marola,

Esse irmão de Virgulino

Querendo ir pra degola,

Levou à mão a altura

De seu quadril, da cintura

Pra puxar uma pistola.

 

Sem sentir nenhum pavor

Os Bezerras se encostaram,

No cabo de suas armas

As suas mãos colocaram,

Para enfrentar o combate

E pra aquele disparate

Os mesmos se prepararam.

 

Mas por parte dos Bezerras

Tinha o velho timoneiro,

Antonio Bezerra Leite

Que foi grande fazendeiro

Nas terras de São José

E temendo um rapapé

Quis mostrar seu lado ordeiro.

 

Ele falou pelos os seus

Filhos e os comandados,

Que eles não iam brigar

Nem ia sair apanhados,

E por todos me atender

Aqui ninguém vai morrer

Fiquem todos sossegados.

 

Também pelo outro lado

Temendo uma bagaceira,

Teve outra intervenção

Por Virgulino Ferreira,

Que sem portar nada em mãos

Botou ordem nos irmãos

Acalmando a cabroeira.

 

Os brigões se acalmaram

Cada qual pra seu lugar,

Seguiram outros caminhos

Sem parar de viajar,

Mas nunca mais nas estradas

Veredas, encruzilhadas

Vieram mais se encontrar.

 

Os Bezerras continuaram

No seu velho São José,

No sertão da Paraíba

Encostado bem no pé,

Da serra do Salgadinho

Onde se avista o Brejinho

O seu querido sopé.

 

Virgulino onde morava

Teve uma queda de braço,

Nas terras de Vila Bela

Foi grande o estardalhaço,

Uma briga de fronteira

Botou Virgulino Ferreira

Bem mais perto do cangaço.

 

Foi com José Saturnino

Que ele se desentendeu,

Era vizinho de terras

E por aí foi que deu,

Combates por várias vezes

Por causa de umas rezes

Que La desapareceu.

 

Mas foi mesmo em vinte e um

Do século mencionado,

Que Lampião de uma vez

Se mostrava revoltado,

E pro cangaço ele vai

Com a morte de seu pai

Pela polícia do estado.

 

Daí pra frente o almocreve

Saía da profissão,

A sua tropa de burros

Trocou pelo mosquetão,

Bandoleiro destemido

Passando a ser conhecido

Por nome de Lampião.

 

O ano já era outro

Mil novecentos e vinte e três,

Lampião já no cangaço

Ganhava fama de vez,

Andava todo o sertão

E numa dessa ocasião

Vejam só que ele fez:

 

Pras bandas de São José

Lampião sempre rondava,

Fazia parte da rota

Em que ele sempre andava,

La em Patos de Irerê

Ele vinha se esconder

Marcolino lhe acoitava.

 

E numa passagem dessas

Ele procurou saber,

Onde morava Antonio Bezerra

Pois iria lhe fazer,

Visita de cortesia

E justo numa tarde fria

Tudo veio acontecer.

 

São José estava em festa

De Maria Imaculada,

Era 08 de dezembro

Tava sendo festejada,

A nossa mãe milagreira

Que também é padroeira

Da nossa terrinha amada.

 

Toda a comunidade

Tava na celebração,

Já era final de tarde

Terminava a procissão,

E os filhos do patriarca

Que o catolicismo abarca

Rezavam em adoração.

 

Nisso foi que Lampião

Apareceu bem maneiro,

E pro Alto dos Bezerras

Partiu destino certeiro,

Com a tropa do cangaço

Chegou sem estardalhaço

E se apossou do terreiro.

 

Quando o velho patriarca

Foi saindo na calçada,

Do seu belo casarão

Que ficava assim virada,

Pra São José bem em frente

Para o lado do poente

Bem na beira da estrada.

 

Lampião se dirigiu

Que queria conversar,

E os cangaceiros ficassem

No terreiro a lhe esperar,

Quando Antonio Bezerra disse

Pedindo que ele subisse

E o que queria tratar?

 

Sem tremer nem gaguejar

Antonio Bezerra procurou,

Se ele veio resolver

Um assunto que ficou,

Há muitos anos atrás

Pendente e que jamais

Ninguém enfim se explicou.

 

Se veio a isso o senhor

Aqui não vai encontrar,

Meus filhos não estão em casa

Eles foram festejar,

A festa da padroeira

Visto que dessa maneira

Por aqui não vão estar.

 

Mas se veio pra acertar

Aquela velha contenda,

Se for maltratar meus filhos

Prefiro que me ofenda,

Porque eu prefiro morrer

Ao ver um filho sofrer

Levando uma reprimenda.

 

Lampião olhou com encanto

Pra aquela nobre figura,

Dizendo meu velho amigo

Gostei da sua lisura,

Honrando a sua camisa

É gente assim que precisa

Para um sertão de bravura.

 

Só vim aqui desfazer

As histórias mal contadas,

Saber como andam as coisas

Se ainda ta nas estradas,

Só vim rever o amigo

Dos caminhos de perigo

Das rotas empoeiradas.

 

Logo então foi se acabando

O que estava em questão,

Aquela velha contenda

Morreu na ocasião,

Os dois ali se fitaram

Chegaram junto e selaram

A paz com um aperto de mão.

 

Assim sendo terminou

A cisma do velho pai,

Antonio Bezerra Leite

O patriarca que vai,

Ficar por todos lembrado

Pela bravura e legado

Que aqui deixou e não sai.

 

Essa história é verdadeira

Não precisa ter espanto,

Lampião esteve La

No Alto por todo canto,

Quem contou era de marca

Um neto do patriarca

Chamado “Joaquim de Santo”.

 

Joaquim Bezerra Leite

O seu nome verdadeiro,

Filho de Santo Bezerra

Que era grande fazendeiro,

Nisso mostra a autenticidade

E toda veracidade

Desse velho timoneiro.

 

E o velho “Santo” chamava-se

Pelo batismo Luis,

Um fazendeiro de porte

Que a própria história diz,

Tá nos anais registrada

De São José a Serra Talhada

Ele fincou sua raiz.

 

Mas aí é outra história

Que outro dia vou contar,

Com o primo Charles Bezerra

Esse parceiro exemplar,

Que tem a história guardada

Bem certinha registrada

Pra não deixar se acabar.

 

FIM

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