Charles Bezerra Cabral
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Hoje vamos iniciar a publicação de (12) doze exemplares de literatura de cordel escritas pelo meu querido primo Rena Bezerra, poeta da cidade de São José de Princesa. O Rena reside nessa histórica cidade mais precisamente no Alto dos Bezerra, no Chalé/Casarão de propriedade da família e que foi construida entre os anos de 1917/1918 pelo meu saudoso bisavô, LUIZ BEZERRA LEITE (santo bezerra), falecido em 1954.
Rena Bezerra nasceu em 02/11/1969, é filho do meu saudoso primo EDILSON BEZERRA LEITE e da minha prima RITA HENRIQUE BEZERRA. É licenciado em Biologia pela Faculdade de Formação de Professores de Arcoverde na turma de 1993. Dotado de grande cultura e sabedoria, Rena Bezerra além de poeta, é Professor e pecuarista, e vive da criação de gado de leite nas propriedades herdadas do pai e que estão na família a cerca de dois séculos, desde a chegada dos Bezerras em São José de Princesa lá pelos idos de 1801. (vê matéria sobre a chegada dos Bezerra em São José de Princesa: http://charlescabral-ipa.blogspot.com/2016/03/origem-da-familia-cabral-em-sao-jose-de.html).
Poeta Rena Bezerra declamando
CONTENDA ENTRE OS BEZERRAS de São José de Princesa E OS FERREIRAS de Vila Bela.
(Autor: Rena Bezerra)
-Poeta e Professor-
Se passou no século XX
Isso que eu vou contar,
Os Bezerras e os Ferreiras
Sempre junto a viajar,
Tangendo seus animais
Pra transportar cereais
Cada qual pra seu lugar.
Eles eram almocreves
Cortando todo o sertão,
Seus burros de grande porte
Pra suportar o rojão,
Viajavam por Campina
Juazeiro, Araripina
Por toda essa região.
Também estava na rota
Arcoverde e Mossoró,
Da serra do Araripe
Ao vale do Piancó,
Os almocreves passavam
Na rota também cruzavam
Cariri e Moxotó.
De Araripina traziam
Óleo, sabão e farinha,
De Juazeiro tecidos
Produtos de toda linha,
Arroz lá do Piancó
E o sal de Mossoró
Pra não faltar na cozinha.
De Campina Grande vinha
Café e cachaça boa,
Os móveis pra toda a casa
Para agradar a patroa,
E também outros produtos
Que vinha La dos redutos
Da capital João Pessoa.
Das bandas de Arcoverde
Traziam roupas, calçados,
Equipamentos agrícolas
Para tocar os roçados,
Traziam medicamentos
Munição e armamentos
Pra suprir “os mais chegados’.
E na rota dos tangentes
Tinha os pontos de apoio,
Onde iam descansar
Fazer toada e aboio,
Depois iam almoçar
Bater papo, se esticar
E abastecer o comboio.
Mas numa viagem dessas
Entre o ano 15 e 17,
Um irmão de Virgulino
Querendo fazer manchete,
Numa discussão banal
Pensou ele que era o tal
E a morte o outro promete.
Começou uma questão
Iniciou-se uma marola,
Esse irmão de Virgulino
Querendo ir pra degola,
Levou à mão a altura
De seu quadril, da cintura
Pra puxar uma pistola.
Sem sentir nenhum pavor
Os Bezerras se encostaram,
No cabo de suas armas
As suas mãos colocaram,
Para enfrentar o combate
E pra aquele disparate
Os mesmos se prepararam.
Mas por parte dos Bezerras
Tinha o velho timoneiro,
Antonio Bezerra Leite
Que foi grande fazendeiro
Nas terras de São José
E temendo um rapapé
Quis mostrar seu lado ordeiro.
Ele falou pelos os seus
Filhos e os comandados,
Que eles não iam brigar
Nem ia sair apanhados,
E por todos me atender
Aqui ninguém vai morrer
Fiquem todos sossegados.
Também pelo outro lado
Temendo uma bagaceira,
Teve outra intervenção
Por Virgulino Ferreira,
Que sem portar nada em mãos
Botou ordem nos irmãos
Acalmando a cabroeira.
Os brigões se acalmaram
Cada qual pra seu lugar,
Seguiram outros caminhos
Sem parar de viajar,
Mas nunca mais nas estradas
Veredas, encruzilhadas
Vieram mais se encontrar.
Os Bezerras continuaram
No seu velho São José,
No sertão da Paraíba
Encostado bem no pé,
Da serra do Salgadinho
Onde se avista o Brejinho
O seu querido sopé.
Virgulino onde morava
Teve uma queda de braço,
Nas terras de Vila Bela
Foi grande o estardalhaço,
Uma briga de fronteira
Botou Virgulino Ferreira
Bem mais perto do cangaço.
Foi com José Saturnino
Que ele se desentendeu,
Era vizinho de terras
E por aí foi que deu,
Combates por várias vezes
Por causa de umas rezes
Que La desapareceu.
Mas foi mesmo em vinte e um
Do século mencionado,
Que Lampião de uma vez
Se mostrava revoltado,
E pro cangaço ele vai
Com a morte de seu pai
Pela polícia do estado.
Daí pra frente o almocreve
Saía da profissão,
A sua tropa de burros
Trocou pelo mosquetão,
Bandoleiro destemido
Passando a ser conhecido
Por nome de Lampião.
O ano já era outro
Mil novecentos e vinte e três,
Lampião já no cangaço
Ganhava fama de vez,
Andava todo o sertão
E numa dessa ocasião
Vejam só que ele fez:
Pras bandas de São José
Lampião sempre rondava,
Fazia parte da rota
Em que ele sempre andava,
La em Patos de Irerê
Ele vinha se esconder
Marcolino lhe acoitava.
E numa passagem dessas
Ele procurou saber,
Onde morava Antonio Bezerra
Pois iria lhe fazer,
Visita de cortesia
E justo numa tarde fria
Tudo veio acontecer.
São José estava em festa
De Maria Imaculada,
Era 08 de dezembro
Tava sendo festejada,
A nossa mãe milagreira
Que também é padroeira
Da nossa terrinha amada.
Toda a comunidade
Tava na celebração,
Já era final de tarde
Terminava a procissão,
E os filhos do patriarca
Que o catolicismo abarca
Rezavam em adoração.
Nisso foi que Lampião
Apareceu bem maneiro,
E pro Alto dos Bezerras
Partiu destino certeiro,
Com a tropa do cangaço
Chegou sem estardalhaço
E se apossou do terreiro.
Quando o velho patriarca
Foi saindo na calçada,
Do seu belo casarão
Que ficava assim virada,
Pra São José bem em frente
Para o lado do poente
Bem na beira da estrada.
Lampião se dirigiu
Que queria conversar,
E os cangaceiros ficassem
No terreiro a lhe esperar,
Quando Antonio Bezerra disse
Pedindo que ele subisse
E o que queria tratar?
Sem tremer nem gaguejar
Antonio Bezerra procurou,
Se ele veio resolver
Um assunto que ficou,
Há muitos anos atrás
Pendente e que jamais
Ninguém enfim se explicou.
Se veio a isso o senhor
Aqui não vai encontrar,
Meus filhos não estão em casa
Eles foram festejar,
A festa da padroeira
Visto que dessa maneira
Por aqui não vão estar.
Mas se veio pra acertar
Aquela velha contenda,
Se for maltratar meus filhos
Prefiro que me ofenda,
Porque eu prefiro morrer
Ao ver um filho sofrer
Levando uma reprimenda.
Lampião olhou com encanto
Pra aquela nobre figura,
Dizendo meu velho amigo
Gostei da sua lisura,
Honrando a sua camisa
É gente assim que precisa
Para um sertão de bravura.
Só vim aqui desfazer
As histórias mal contadas,
Saber como andam as coisas
Se ainda ta nas estradas,
Só vim rever o amigo
Dos caminhos de perigo
Das rotas empoeiradas.
Logo então foi se acabando
O que estava em questão,
Aquela velha contenda
Morreu na ocasião,
Os dois ali se fitaram
Chegaram junto e selaram
A paz com um aperto de mão.
Assim sendo terminou
A cisma do velho pai,
Antonio Bezerra Leite
O patriarca que vai,
Ficar por todos lembrado
Pela bravura e legado
Que aqui deixou e não sai.
Essa história é verdadeira
Não precisa ter espanto,
Lampião esteve La
No Alto por todo canto,
Quem contou era de marca
Um neto do patriarca
Chamado “Joaquim de Santo”.
Joaquim Bezerra Leite
O seu nome verdadeiro,
Filho de Santo Bezerra
Que era grande fazendeiro,
Nisso mostra a autenticidade
E toda veracidade
Desse velho timoneiro.
E o velho “Santo” chamava-se
Pelo batismo Luis,
Um fazendeiro de porte
Que a própria história diz,
Tá nos anais registrada
De São José a Serra Talhada
Ele fincou sua raiz.
Mas aí é outra história
Que outro dia vou contar,
Com o primo Charles Bezerra
Esse parceiro exemplar,
Que tem a história guardada
Bem certinha registrada
Pra não deixar se acabar.
FIM
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