Charles Bezerra Cabral
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Dando sequência a Literatura Cordelista, publicamos mais um exemplar do primo poeta Rena Bezerra.
VALEI-ME MEU “PADIM CIÇO’!
Autor: Rena Bezerra
(Poeta e professor)
1
Em Juazeiro do Norte
Estado do Ceará,
Viveu o Padre mais forte
Que já se ouviu falar,
Sem contar com nem um cobre
Foi o protetor do pobre
Que no sertão quis ficar.
2
O sertanejo abatido
Com a vida já no fim,
Sem poder ser socorrido
Só pensa no que é ruim,
Mas a pobreza encontrou
Um santo que Deus mandou
Chamado de “Meu Padim”.
3
Ele ajudou a pobreza
Sem olhar pra cara ou cor,
Usando a sua nobreza
Seu papel de protetor,
Seguiu na sua missão
Abrindo seu coração
De paz, justiça e amor.
4
“Meu Padim Ciço Romão”
Fora muito criticado,
Foi chamado de ladrão
Comunista e procurado,
Mais ele não esmoreceu
Por aqui permaneceu
Cuidando de seu legado.
5
Foi Vice-Governador
Deputado Federal,
Mas sempre abnegou
Desse direito legal,
Continuou firme e forte
No Juazeiro do Norte
Combatendo todo mal.
6
Certo dia numa missa
Na matriz de Juazeiro,
Uma beata noviça
No seu ato costumeiro,
Quando a hóstia recebeu
Da hóstia sangue correu
Molhando seu corpo inteiro.
7
A notícia se espalhou
Pelo Brasil, pelo mundo,
O Vaticano enviou
Um pesquisador profundo,
Para examinar o caso
E falando sem atraso:
- Foi milagre. Eu não confundo.
8
“Meu Padim” foi contestado
Até pela própria igreja,
Passou tempos afastado
Pedindo a Deus que o proteja,
Mais com licença ou sem manto
Ele logo virou santo
Da pobreza sertaneja.
9
E ele foi venerado
Até mesmo por Lampião,
Que um dia apareceu
Pra lhe pedir proteção,
Padim Ciço o abençoou
Pois nunca ele negou
Um pedido de perdão.
10
Mas pediu a Lampião
Sem medo e sem embaraço,
Que ele de uma vez por todas
Modificasse seu traço,
Mudando sua profissão
Aliviando o sertão
Do reinado do cangaço.
11
A patente de Capitão
Que Lampião carregava,
Não foi ‘Meu Padim’ quem deu
Como muita gente jurava,
A Patente naquele tempo
O cabra sem contratempo
Tinha dinheiro e comprava.
12
Tudo que o padre tinha
Ele doou pra igreja,
Também cedeu uma parte
Pra pobreza sertaneja,
Para os salesianos
Que estava nos seus planos
Ele doou de bandeja.
13
Com a morte do “Padim Ciço”
O sertão quis desandar,
O povo num reboliço
Levava o tempo a chorar,
Pensando ficar ao léu
Mais “Meu Padim” ta no céu
Não vai nos abandonar
14
Em 20 do mês de julho
Do ano de trinta e quatro,
Um pouco debilitado
Com 90 anos exato,
Padim Cíço faleceu
Juazeiro emudeceu
Doeu bastante esse fato.
15
Todo mês no dia 20
É aquele rebuliço,
As devotas fervorosas
Se trajam em luto castiço,
São beatas declaradas
E no sertão são chamadas
As viúvas do ‘Padim Ciço’.
16
No dia 02 de finados
As estradas de Juazeiro,
De pé, de burro ou de ônibus
Pau de arara, carroceiros,
Por todo canto que olhar
Da gosto de registrar
A multidão de romeiros.
17
Vai todo mundo pra lá
Rezar para meu Padim,
Pedir proteção a ele
Pra nos livrar do que é ruim,
E nunca nos abandonar
Esteja sempre a nos guiar
Nessa estrada até o fim.
18
“Meu Padim” é Santo, é mito
É o protetor do sertão,
É o ouvidor do grito
Precisado de perdão,
Livrai-nos do que é ruim
“Valei-me meu bom Padim”
Nos dê força e proteção.
FIM
Poeta Cordelista
Rena Bezerra
17/05/2013
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