terça-feira, 8 de agosto de 2023

 Charles Bezerra Cabral

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    Dando sequência a Literatura Cordelista, publicamos  mais um exemplar do primo poeta Rena Bezerra.

 

VALEI-ME MEU “PADIM CIÇO’!

Autor: Rena Bezerra

(Poeta e professor)

 1

Em Juazeiro do Norte

Estado do Ceará,

Viveu o Padre mais forte

Que já se ouviu falar,

Sem contar com nem um cobre

Foi o protetor do pobre

Que no sertão quis ficar.

 2

O sertanejo abatido

Com a vida já no fim,

Sem poder ser socorrido

Só pensa no que é ruim,

Mas a pobreza encontrou

Um santo que Deus mandou

Chamado de “Meu Padim”.

 3

Ele ajudou a pobreza

Sem olhar pra cara ou cor,

Usando a sua nobreza

Seu papel de protetor,

Seguiu na sua missão

Abrindo seu coração

De paz, justiça e amor.

 4

“Meu Padim Ciço Romão”

Fora muito criticado,

Foi chamado de ladrão

Comunista e procurado,

Mais ele não esmoreceu

Por aqui permaneceu

Cuidando de seu legado.

 5

Foi Vice-Governador

Deputado Federal,

Mas sempre abnegou

Desse direito legal,

Continuou firme e forte

No Juazeiro do Norte

Combatendo todo mal.

 6

Certo dia numa missa

Na matriz de Juazeiro,

Uma beata noviça

No seu ato costumeiro,

Quando a hóstia recebeu

Da hóstia sangue correu

Molhando seu corpo inteiro.

 7

A notícia se espalhou

Pelo Brasil, pelo mundo,

O Vaticano enviou

Um pesquisador profundo,

Para examinar o caso

E falando sem atraso:

- Foi milagre. Eu não confundo.

 8

“Meu Padim” foi contestado

Até pela própria igreja,

Passou tempos afastado

Pedindo a Deus que o proteja,

Mais com licença ou sem manto

Ele logo virou santo

Da pobreza sertaneja.

 9

E ele foi venerado

Até mesmo por Lampião,

Que um dia apareceu

Pra lhe pedir proteção,

Padim Ciço o abençoou

Pois nunca ele negou

Um pedido de perdão.

 10

Mas pediu a Lampião

Sem medo e sem embaraço,

Que ele de uma vez por todas

Modificasse seu traço,

Mudando sua profissão

Aliviando o sertão

Do reinado do cangaço.

 11

A patente de Capitão

Que Lampião carregava,

Não foi ‘Meu Padim’ quem deu

Como muita gente jurava,

A Patente naquele tempo

O cabra sem contratempo

Tinha dinheiro e comprava.

 12

Tudo que o padre tinha

Ele doou pra igreja,

Também cedeu uma parte

Pra pobreza sertaneja,

Para os salesianos

Que estava nos seus planos

Ele doou de bandeja.

 13

Com a morte do “Padim Ciço”

O sertão quis desandar,

O povo num reboliço

Levava o tempo a chorar,

Pensando ficar ao léu

Mais “Meu Padim” ta no céu

Não vai nos abandonar

 14

Em 20 do mês de julho

Do ano de trinta e quatro,

Um pouco debilitado

Com 90 anos exato,

Padim Cíço faleceu

Juazeiro emudeceu

Doeu bastante esse fato.

 15

Todo mês no dia 20

É aquele rebuliço,

As devotas fervorosas

Se trajam em luto castiço,

São beatas declaradas

E no sertão são chamadas

As viúvas do ‘Padim Ciço’.

 16

No dia 02 de finados

As estradas de Juazeiro,

De pé, de burro ou de ônibus

Pau de arara, carroceiros,

Por todo canto que olhar

Da gosto de registrar

A multidão de romeiros.

 17

Vai todo mundo pra lá

Rezar para meu Padim,

Pedir proteção a ele

Pra nos livrar do que é ruim,

E nunca nos abandonar

Esteja sempre a nos guiar

Nessa estrada até o fim.

 18

“Meu Padim” é Santo, é mito

É o protetor do sertão,

É o ouvidor do grito

Precisado de perdão,

Livrai-nos do que é ruim

“Valei-me meu bom Padim”

Nos dê força e proteção.

 

FIM

 

Poeta Cordelista

Rena Bezerra

17/05/2013

 

 

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