Charles Bezerra Cabral
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É com satisfação que publicamos esse belo material de cordel do meu querido primo Rena Bezerra, que ao ler a nossa matéria sobre esse desentendimento entre os nossos ancestrais e os irmãos Ferreira de Vila Bela, resolveu escrever abrilhantando esse acontecimento com seu vasto conhecimento cordelista. Desejo a todos uma boa leitura. (Charles Bezerra Cabral)
CONTENDA ENTRE OS BEZERRAS de São José E OS FERREIRAS de Vila Bela. (Autor: Rena Bezerra) -Poeta e Professor- 1 Se passou no século XX Isso que eu vou contar, Os Bezerras e os Ferreiras Sempre junto a viajar, Tangendo seus animais Pra transportar cereais Cada qual pra seu lugar. 2 Eles eram almocreves Cortando todo o sertão, Seus burros de grande porte Pra suportar o rojão, Viajavam por Campina Juazeiro, Araripina Por toda essa região. 3 Também estava na rota Arcoverde e Mossoró, Da serra do Araripe Ao vale do Piancó, Os almocreves passavam Na rota também cruzavam Cariri e Moxotó. 4 De Araripina traziam Óleo, sabão e farinha, De Juazeiro tecidos Produtos de toda linha, Arroz lá do Piancó E o sal de Mossoró Pra não faltar na cozinha. 5 De Campina Grande vinha Café e cachaça boa, Os móveis pra toda a casa Para agradar a patroa, E também outros produtos Que vinha La dos redutos Da capital João Pessoa. 6 Das bandas de Arcoverde Traziam roupas, calçados, Equipamentos agrícolas Para tocar os roçados, Traziam medicamentos Munição e armamentos Pra suprir os mais chegados. 7 E na rota dos tangentes Tinha os pontos de apoio, Onde iam descansar Fazer toada e aboio, Depois iam almoçar Bater papo, se esticar E abastecer o comboio. 8 Mas numa viagem dessas Entre o ano 15 e 18, Um irmão de Virgulino Se mostrando muito afoito, Numa discussão banal Pensou ele que era o tal E se rebelou do coito. 9 Começou uma questão Iniciou-se uma marola, Esse irmão de Virgulino Querendo ir pra degola, Levou à mão a altura De seu quadril, da cintura Pra puxar uma pistola. 10 Sem sentir nenhum pavor Os Bezerras se encostaram, No cabo de suas pistolas As suas mãos colocaram, Para enfrentar o combate E praquele disparate Os mesmos se prepararam. 11 Mas por parte dos Bezerras Tinha o velho patriarca, Antonio Bezerra Leite Um fazendeiro de Marca Maior que deu nessa terra E temendo haver uma guerra A sua paz desembarcar. 12 Ele falou pelos os seus Filhos e os empregados, Que eles não iam brigar Nem saiam apanhados, E por todos me atender Aqui ninguém vai morrer Fiquem todos controlados. 13 Também pelo outro lado Temendo uma bagaceira, Teve outra intervenção Por Virgulino Ferreira, Que sem portar nada em mãos Botou ordem nos irmãos Acalmando a cabroeira. 14 Os brigões se acalmaram Cada qual pra seu lugar, Seguiram outros caminhos Sem parar de viajar, Mas nunca mais nas estradas Veredas, encruzilhadas Vieram mais se encontrar. 15 Os Bezerras continuaram No seu velho São José, No sertão da Paraíba Encostado bem no pé, Da serra do Salgadinho Onde se avista o Brejinho O seu querido sopé. 16 No ano de dezenove Teve uma queda de braço, Nas terras de Vila Bela Foi grande o estardalhaço, Uma briga de fronteira Fez Virgulino Ferreira Enveredar no cangaço. 17 Foi com José Saturnino Que ele se desentendeu, Era vizinho de terras E por aí foi que deu, Combates por várias vezes Por causa de umas rezes Que La desapareceu. 18 Daí pra frente o almocreve Saía da profissão, A sua tropa de burros Trocou pelo mosquetão, Bandoleiro destemido Passando a ser conhecido Por nome de Lampião. 19 O ano já era outro Mil novecentos e vinte, Lampião já no cangaço Ganhava fama e requinte, Andava todo o sertão E numa dessa ocasião Aconteceu o seguinte: 20 Pras bandas de São José Lampião sempre rondava, Fazia parte da rota Em que ele sempre andava, La em Patos de irerê Ele vinha se esconder Marcolino lhe acoitava. 21 E numa passagem dessas Ele procurou saber, Onde morava Antonio Bezerra Pois iria lhe fazer, Visita de cortesia E justo numa tarde fria Tudo veio acontecer. 22 São José estava em festa De Maria Imaculada, Era 08 de dezembro Tava sendo festejada, A nossa mãe milagreira Que também é padroeira Da nossa terrinha amada. 23 Toda a comunidade Tava na celebração, Já era final de tarde Terminava a procissão, E os filhos do patriarca Que o catolicismo abarca Rezavam em adoração. 24 Nisso foi que Lampião Apareceu bem maneiro, E pro Alto dos Bezerras Partiu destino certeiro, Com a tropa do cangaço Chegou fazendo arregaço E se apossou do terreiro. 25 Nisso o velho patriarca Foi saindo na calçada, Do seu belo casarão Que ficava assim virada, Pra São José bem em frente Para o lado do poente Bem na beira da estrada. 26 Lampião se dirigiu Que queria conversar, E os cangaceiros ficassem No terreiro a lhe esperar, Quando Antonio Bezerra disse Pedindo que ele subisse Qual o assunto a tratar? 27 Sem tremer nem gaguejar Antonio Bezerra procurou, Se ele veio resolver Um assunto que ficou, Há muitos anos atrás Pendente e que jamais Ninguém enfim se explicou. 28 Se veio a isso o senhor Aqui não vai encontrar, Meus filhos não estão em casa Eles foram festejar, A festa da padroeira Visto que dessa maneira Por aqui não vão estar. 29 Mas se veio pra acertar Aquela velha contenda, Pode descer a ladeira Saia da minha fazenda, E ao encontrar os meus filhos Bote os assuntos nos trilhos Você por La se entenda. 30 Nisso Lampião olhou Praquela nobre figura, Dizendo meu velho amigo Gostei da sua lisura, Honrando a sua camisa E gente assim é que precisa Para um sertão de bravura. 31 Só vim aqui desfazer As histórias mal contadas, Saber como andam as coisas Se ainda ta nas estradas, Só vim rever o amigo Dos caminhos de perigo Das rotas empoeiradas. 32 Nisso logo se acabou O que estava em questão, Aquela velha contenda Morreu na ocasião, Os dois ali se fitaram Chegaram junto e selaram A paz com um aperto de mão. 33 Assim sendo terminou A cisma do velho pai, Antonio Bezerra Leite O patriarca que vai, Ficar por todos lembrado Pela bravura e legado Que aqui deixou e não sai. 33 Essa historia é verdadeira Não precisa ter espanto, Lampião esteve La No Alto por todo canto, Quem contou era de marca Um neto do patriarca Chamado Joaquim de Santo. 34 Joaquim Bezerra Leite O seu nome verdadeiro, Filho de Santo Bezerra Que era grande fazendeiro, Nisso mostra a autenticidade E toda veracidade Desse velho timoneiro. 35 E o velho Santo chamava-se Pelo batismo Luis, Um fazendeiro de porte Que a própria história diz, Ta nos anais registrada De São José a Serra Talhada Ele fincou sua raiz. 36 Mas aí é outra história Que outro dia vou contar, Com o primo Charles Bezerra Esse parceiro exemplar, Que tem a história guardada Bem certinha registrada Pra não deixar se acabar. FIM
Primo, já pensei que vc era poeta tb, rsss
ResponderExcluirRena arrasa no Cordél né...
E Mariinha ta bem? Bju a tds, Eliana